No culto dos Orixás, o som dos tambores possui função fundamental na evocação das energias sagradas. No barracão, os atabaques ditam o ritmo e o encanto de cada divindade, em sincronia com cada energia e as nuances de cada aspecto da natureza evocado nos distintos toques. A responsabilidade de chamar os deuses em terra está nas mãos dos Ogans, membros da família religiosa instruídos minuciosa e cuidadosamente na arte do toque de cada instrumento utilizado dentro do culto. Sua responsabilidade é tremenda, e não só nos dias de festas públicas. Com os Ogans está o dever de convocar as divindades, executando seus toques com rigor e precisão, convocando e propagando seu Axé.

O Alagbê, Ogan que toca o atabaque e entoa os cânticos rituais, também carrega a responsabilidade pela manutenção e conservação dos instrumentos, que dentro do culto são muito mais que meros objetos musicais, mas ferramentas mágicas, de valor e função ritualística. Dentro da hierarquia dos Ogans de uma casa, também se compele a atribuição de manter e ensinar aos Ogans mais novos os toques e as cantigas, de forma a preservar da forma mais íntegra possível essas que são parte tão importante da tradição oral e da cultura da casa, herança bem instituída e impulsionada pelos mais velhos no passar das gerações.

O som do toque dos atabaques reverbera pelo salão e através dos adeptos e visitantes, preenchendo a todos com Axé que vibra e pulsa. É por meio da energia que retumba comanda a concentração e firma a conexão dos Yawôs com seus Orixás.

Como qualquer ferramenta de culto dentro do Candomblé, os atabaques, como os outros instrumentos, o agogô, os Xeres, os Adjas, são devidamente sacralizados, limpos e imbuídos dos fundamentos necessários para que sua função de culto possa ser desempenhada corretamente.

O retumbar dos atabaques vibra farto de Axé, levando à todos a energia primordial dos Orixás, nos conectando com as divindades e com nós mesmos. Seu som também é caracteristicamente associado não só ao candomblé, mas a todo culto afro brasileiro, e para além do sagrado, nos sons de festividades populares de todos os tipos. E a realidade é que quem ouve o toque de um atabaque sabe dizer, de onde quer que venha, que ali há felicidade.

 

 

 

Referências:

A Formação do Candomblé, Luis Nicolau Pares, 2007, editora Unicamp

O Candomblé Bem explicado, Odé Kileuy & Vera de Oxaguiã, 2009, editora Pallas

https://candombledabahia.wordpress.com/2013/07/13/origem-dos- tambores-e-

atabaques-na- cultura-brasileira/

https://jornalggn.com.br/blog/implacavel/toques-e- tambores-no- candomble

 

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